Os homens não querem mais namorar?

Confira abaixo o caso de Paulo, um cliente que, assim como muita gente, sofre pela pressão de ter que estar em um relacionamento.

Paulo (personagem que agrega inúmeras conversas que tive com clientes, homens e mulheres, em meu consultório), meu cliente de 31 anos, entra desconfiado em minha sala, e após uma breve quebra de gelo, me pergunta:

– Cara, será que eu tô ficando doido?

– Em que sentido? – Respondo com outra pergunta, aceitando o fato que todo mundo é, em certa medida, “um pouco doido”.

– Ah cara, veja só. Eu sou um cara legal. Tenho um bom trabalho (sócio de escritório de advocacia), moro sozinho, cuido da minha saúde. Mas não encontro ninguém pra namorar.

– Não encontra ninguém? Como assim?

– Assim, eu conheço a mina, a gente sai, transa, se diverte. Depois de alguns dias, a coisa esfria e pronto!

– Pronto, o quê?!

– A coisa acaba e eu parto pra outra.

– E qual o problema com isso? O que te incomoda?

– É que eu já to ficando velho. Não deveria estar me casando, tendo filhos?

– Ué, você quer casar e ter filhos?

– Não! Gosto da minha solteirice. Gosto de jogar meu videogame, de curtir o final de semana com os amigos e sair com quem eu quiser.

– Pra mim, isso parece OK. Por que isso te incomoda?

– É que eu tenho medo. Medo de ser um solitário.

– Bem, você tem seu trabalho, seus amigos e conhece mulheres. Porque isso lhe dá medo?

– Veja, meus pais se separaram muito cedo, quando eu tinha uns quatro ou cinco aninhos. Meu pai conheceu várias mulheres até se casar de novo. E minha mãe… – Paulo chora neste momento.

– O que tem a sua mãe?

– Ela nunca mais se ajeitou. Nunca mais teve ninguém.

– Isso me parece bem triste. Mas, porque você associa a história deles com os seus medos?

– Porque eu fui em um psicólogo que disse que meu medo é porque eu tenho uma memória reprimida sobre a separação dos meus pais, e por isso que eu não consigo achar ninguém para namorar. Depois eu fui em uma Constelação Familiar onde a moça disse que eu estava “olhando” para minha mãe, mas eu não entendi nada disso.

– Olha, esquece essas coisas. Infelizmente os terapeutas acham que ficar decorando ideias ou conceitos, para depois tentar encaixar seus clientes em suas próprias crenças, resolve alguma coisa. Mas não. Quero saber de você: o que realmente lhe incomoda?

– Será que por causa dos meus pais eu estou destinado a ficar sozinho? Será que por causa deles eu estou apenas atraindo pessoas “ruins”?

O amor é uma permissão

Em seguida, Paulo, que está com o rosto cheio de lágrimas (e meleca no nariz), me lança a seguinte pergunta:

– Será que estou fadado a ser um solitário como minha mãe?

Questões de relacionamento são sempre difíceis, pois além de que o que funciona para uma pessoa pode não funcionar para outra, envolve, sobretudo, a imagem que temos de nossos pais, do relacionamento deles e de como nos encaixamos nisso.

Nossa representação interna. 

Você “representa” seus pais em sua vida

Paulo alegava que não conseguia namorar e tinha medo do futuro, chegando, inclusive, a culpar sua mãe.

Porém, utilizando a Terapia de Reintegração Implícita (T.R.I.) chegamos a conclusão que não, esse nunca foi o problema dele.

Na verdade o que estava acontecendo era uma associação feita ainda quando criança, de que para manter papai e mamãe unidos (pois sempre estavam brigando) era necessário um “sacrifício“, o que fazia com que o pequeno Paulo sempre ficasse doente e acamado – o que trouxe espanto ao adulto, que nem sequer pensava nisso, lembrando dos períodos com dor de garganta que o impediam de ir à escola e exigiam constantes internações.

– Agora tudo faz sentido – anuncia Paulo, ainda em hipnose.

Claro que esta estratégia infantil não funcionou da maneira esperada, porém, a demanda persistiu e, ainda adulto, subconscientemente mantinha a intenção de que, sofrendo, poderia ter papai e mamãe juntinhos.

A diferença é que adulto ele já não estava mais doente – fisicamente falando.

E o problema nunca foi a “falta de namoro“. Os namoros simplesmente não aconteciam porque ele não permitia se sentir feliz, afinal, seria incongruente com a sua tristeza e a tristeza do papai e da mamãe.

O jogo dos scripts

E assim Paulo mantinha-se esperando que algo diferente acontecesse, porém, o script ou roteiro desenvolvido em seu ambiente familiar o impedia de fazer diferente, isto é, não tinha um real livre arbítrio.

Em sua vida ele sempre obtia mais do mesmo, porém passou a justificar sua dor através de outras válvulas – relacionamentos falidos – para manter a demanda emocional desenvolvida por anos e anos, em um período onde nem sequer havia uma tomada de decisão saudável e consciente.

Não cabe aqui todo o desenvolvimento da terapia feita, afinal, tornar-se consciente de um problema não resolve o problema. Porém, ao final de três meses, em sua consulta de retorno, Paulo volta muito mais calmo.

Pergunto-lhe como andam as coisas e, principalmente, aquela antiga questão de querer namorar e ter medo de ficar sozinho.

Ele responde:

– Rafael, durante muito tempo achei que tinha que namorar, que tinha que ter uma família. Depois da terapia, não apenas me permiti ficar livre dessa pressão, como resolvi fazer algo que há anos vinha protelando: vou morar fora do Brasil, viajar um tempo e depois, se aparecer alguém, ótimo. Senão, eu apenas continuo aproveitando a vida, afinal, os problemas dos meus pais não são meus problemas.

– E como é a sensação? – Perguntei.

– Não tem como descrever a leveza aqui – apontando para o peito-. Só sei de uma coisa: Eu tô livre.

Reflexão

Este é o resumo da terapia do Paulo. Convido você, agora, a refletir: qual era o script por trás da racionalização ou justificação que ele usava? E, principalmente: o quanto dos seus pais você está carregando, a ponto de impedir o seu crescimento?

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